Leite naturalmente enriquecido em iodo: Certificar para valorizar.

  • Estado
    CONCLUÍDO
  • Nome
    Diana Paula Silva Linhares
  • Empresa
    Unileite – União das Cooperativas Agrícolas de Laticínios da Ilha de São Miguel
  • Entidade de acolhimento de I&D
    Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Risco (IVAR)

Objectivo

Os Açores registraram em 2017 um número recorde na produção de leite, com perto de 611 milhões de litros produzidos, correspondendo a cerca de 28% da produção de leite nacional (GaCS- GRA, 2018). Uma vez que, o arquipélago tem uma área de exploração limitada, com empresas agroalimentares de pequena e média dimensão, é fundamental que se desenvolvam estratégias para combater a competição inerente à globalização de mercados, através da qualidade dos seus produtos. O aproveitamento das condições endafo-climáticas das ilhas, e a tradição de maneio do gado ao ar livre apresentam-se como características fundamentais para a qualidade do leite produzido na região, contribuindo para atributos únicos tanto em termos organoléticos como nutricionais.Atendendo às condições especificas da região e, ao mercado atual, em que o nível de exigência e concorrência têm vindo a aumentar, a Unileite tem canalizado esforços no sentido de melhorar a sua eficiência e eficácia, de forma a obter uma maior quota de mercado, quer no mercado nacional quer no mercado comunitário, e ainda de melhorar o nível de qualidade dos seus produtos. A procura por uma melhoria contínua tem assentado em projetos de investigação e desenvolvimento (I&D) que são fundamentais para o progresso e competitividade da empresa, pois leva a um aumento do conhecimento, possibilitando o desenvolvimento de novas aplicações e/ou produtos.

Um dos projetos de I&D mais recentes é o LACTIS+. Este projeto surgiu tendo por base o conhecimento científico de que a deficiência de iodo é um grave problema de saúde pública (WHO, 2004) com distribuição mundial, sendo reportada também em Portugal continental e nos arquipélagos da Madeira e Açores. Nos Açores, e na ilha de São Miguel em particular, a população residente tem uma deficiência de iodo bem documentada (Limbert et al., 2012; Linhares et al., 2015). Mais recentemente, Bailote (2016) verificou nas crianças em idade escolar, na ilha terceira, que iodúrias moderadamente baixas contribuem para uma diminuição de 15.13 valores no QI quando comparadas com crianças com iodúrias adequadas reforçando a necessidade de priorizar medidas e apostar em ações concertadas de prevenção e eliminação do défice de iodo.
Dado que o leite é reconhecido como uma boa fonte de iodo, em todo o mundo, e que o núcleo económico da RAA assenta na agricultura, o projeto Lactis+ determinou se e como a disponibilidade ambiental de iodo pode ser afetada por fatores ambientais e geológicos, comparando a disponibilidade do elemento através de: (i) localização geográfica dos locais de colheita, aspetos geomorfológicos e outras características geológicas; (ii) caracterização físico-química dos solos; (iii) determinação da concentração de iodo nos solos e em amostras de erva das respetivas pastagens e, quantificou-se o iodo no leite do gado alimentado em pastagem para estudar a possibilidade deste alimento ser utilizado como agente de compensação humana. Contudo, este projeto apesar de fornecer à indústria o conhecimento empírico do potencial da produção de um leite diferenciado, indicando as melhores áreas de recolha e metodologias de quantificação, não permite a colocação imediata de um novo produto no mercado.
Assim, o objetivo principal do projeto atual é a criação e colocação no mercado de um leite certificado, naturalmente enriquecido em iodo. Para alcançar este propósito será necessário cumprir todos os requisitos legais indicados pela Comissão Europeia para a colocação de um novo produto alimentar no mercado, sendo criado um “dossier do produto”, que é um documento onde consta toda a informação relativa ao produto, nomeadamente: metodologia de seleção da matéria-prima, processos de produção e composição pormenorizada do novo produto.
A fim de garantir que o novo alimento não apresenta um risco de segurança para a saúde humana e que a rotulagem cumpre todos os requisitos específicos não induzindo o consumidor em erro serão desenvolvidos testes de bioacessibilidade alimentar e de quantificação de iodo no leite. A bioacessibilidade é definida como a fração de um nutriente que é libertada da matriz de um nutriente no trato intestinal, durante a digestão, tornando-se disponível para a absorção intestinal (Benito & Miller, 1998). Os testes a desenvolver serão in vitro, simulando as condições fisiológicas e os eventos que ocorrem durante a digestão; são consideradas três áreas do sistema digestivo (boca, estômago e intestino). Os fatores considerados na estimulação gastrointestinal são a temperatura, a velocidade de agitação e a composição química e enzimática da saliva e dos sucos gástricos (Wittsiepe et al., 2001); na solução resultante é quantificado o iodo, permitindo assim avaliar a sua bioacessibilidade. Para a quantificação no leite, será implementada no laboratório da fábrica a metodologia de quantificação por método colorimétrico dotando a empresa de autonomia e otimizando os recursos e mão-de-obra existentes.
Ao longo de todo o processo de criação, certificação e lançamento do novo produto no mercado será desenvolvido um programa de monitorização contínuo garantindo a recolha da matéria-prima com as propriedades mais adequadas, bem como a identificação de “pontos-críticos” de teste e análise ao longo da cadeia de produção para garantir que o produto final apresenta todas as características indicadas na rotulagem.

Este projeto assenta na inovação em produtos, com a introdução de um bem significativamente melhorado relativamente às suas características ou uso pretendido, atendendo melhor às necessidades de mercado, contribuindo assim para a Criação de Valor. Contribuirá também para manter a competitividade e garantir a sustentabilidade da empresa pois resultará em: 1) valorização do produto junto dos clientes, correspondendo aos desejos e expectativas; 2) novos negócios em mercados e condições vantajosas; 3) acesso a novos mercados pela criação de novos produtos e relações; 4) aumento do valor da marca; 5) aumento da rendibilidade dos produtos que já se possui; 6) fidelidade dos clientes; 7) estar à frente da concorrência nos principais fatores de competitividade; 8) melhorar as relações com os parceiros, criando melhores condições para o desenvolvimento dos negócios; 9) melhoria dos processos de trabalho e, 10) redução de custos em todas as áreas de negócio (gestão, produção e vendas).
Finalmente, este projeto na área da inovação empresarial é uma prioridade estratégica para as políticas nacionais de desenvolvimento assumidas no Acordo de Parceria – Portugal 2020, e contribuirá para o desenvolvimento empresarial e económico do setor e do país.