Tecnologia de vigilância marítima com recurso a satélite testada no Banco Condor com sucesso, adianta Gui Menezes
19 OUTUBRO, 2020
Os Açores estão a ser o palco de testes de quatro protótipos de dados da constelação de satélites europeia Copernicus no âmbito do projeto Marine Earth Observation (Marine-EO), o primeiro projeto transnacional europeu para a inovação no domínio da observação da Terra.
O Secretário Regional do Mar, Ciência e Tecnologia revelou que, através de uma colaboração entre o Governo dos Açores e o IMAR, foram realizados, “com sucesso”, testes operacionais de vigilância marítima na área do Banco Condor com o apoio do navio de investigação ‘Arquipélago’.
O teste, para validar a tecnologia desenvolvida no âmbito do Marine-EO, consistiu na passagem dos satélites Sentinel-1B e 1A por cima do Banco Condor, às 07:57 e às 19:40 de 9 de outubro, tendo sido solicitado ao ‘Arquipélago’ que desligasse o sistema AIS (Automatic Identification System).
“Pretendia-se que o sistema, em menos de 60 minutos, identificasse e reportasse esta anomalia, sendo gerado um alerta de ‘navio fantasma’”, disse Gui Menezes.
O Secretário Regional adiantou que, através da estação terreste da Agência Espacial Europeia, em Santa Maria, operada pela EDISOFT, o Governo dos Açores conseguiu aceder aos dados do radar de satélite num espaço temporal de 60 minutos após a sua passagem”.
“Este teste veio demonstrar que é possível, com recursos regionais, passar a monitorizar, em tempo quase real, todas as áreas marinhas protegidas dos Açores”, sublinhou o Secretário Regional.
O Marine-EO reúne os esforços de cinco autoridades marítimas e de quatro organizações científicas e técnicas de prestígio internacional, com vasta experiência em observação da Terra e em assuntos marítimos.
Este projeto visa o desenvolvimento de serviços inovadores e não disponíveis no mercado, baseados no programa Copernicus, destinado a desenvolver serviços de informação com base em dados de observação terrestre.
O Marine-EO desenvolveu-se em três fases concorrenciais de elevada complexidade técnica e jurídica, em que uma série de empresas são avaliadas pela sua prestação, sendo selecionadas as melhores.
As três fases do projeto são o desenho da arquitetura do sistema, a construção dos protótipos e, por último, a fase de testes em ambiente operacional.
O projeto iniciou-se com um total de oito empresas europeias, tendo chegado a esta última fase quatro empresas.
O Secretário Regional salienta que, “ao contrário de uma aquisição de serviços convencional, este processo integra uma componente central de Investigação e Desenvolvimento”, ou seja, “pretende-se desenvolver soluções inovadoras não presentes no mercado, feitas à medida das necessidades dos utilizadores”.
O orçamento global do Marine-EO é de 4,8 milhões de euros, com cofinanciamento de 4,4 milhões pela União Europeia, através do Horizonte 2020.
O orçamento alocado ao Fundo Regional para a Ciência e Tecnologia corresponde a 144 mil euros, estando incluída uma prestação de serviços de apoio técnico-científico da Universidade dos Açores, no valor de 40 mil euros.
Nesta última fase do projeto, estão a ser testadas quatro soluções, duas na área da monitorização marinha e duas na área da vigilância marítima.
Na área da monitorização marinha, estão a ser desenvolvidos protótipos para a monitorização do bom estado ambiental das áreas marinhas protegidas dos Açores e para a monitorização de infraestruturas de aquacultura em mar aberto.
Apesar de já existirem outras soluções no mercado que permitem fazer este tipo de tarefas, as novas soluções incorporam modelos adaptados especificamente ao caso dos Açores, permitindo melhores resoluções do que aquelas que são disponibilizadas pelos satélites da Rede Copernicus.
Integra ainda mecanismos de alerta automáticos, com grande utilidade para a monotorização, mas sobretudo para as operações de aquacultura, permitindo, por exemplo, identificar os riscos de ocorrências de algas tóxicas em determinados locais.
Na componente de vigilância marítima, as soluções a serem desenvolvidas permitem manter uma monitorização permanente nas áreas marinhas protegidas da Região, identificando movimentos suspeitos, “os navios fantasmas”, navios à deriva, entradas e saídas de áreas marinhas protegidas, entre outros.
Considerando que, no âmbito da Diretiva-Quadro Estratégia Marinha da União Europeia, a Região deve reportar dados científicos, a observação da Terra “passará a ter um papel central no conhecimento, gestão e controlo dos recursos marítimos e marinhos dos Açores”, afirmou Gui Menezes.
Neste sentido, este projeto permite “identificar quais as potencialidades e limitações desta tecnologia”, sendo que, no futuro, deverá investir-se no seu uso disseminado, como ferramenta de apoio à decisão, tirando partindo de todas as condições já disponíveis na Região, nomeadamente as infraestruturas espaciais instaladas em Santa Maria”, concluiu.